sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A Amazônia e sua Sobrevivência

AMAZÔNIA ESTÁ PRÓXIMA DO LIMITE DE NÃO RETORNO PARA SUA SOBREVIVÊNCIA

Aquecimento global, desflorestamento e queimadas que minam o sistema hidrogeológico da Amazônia
Créditos: Wikipédia
A Amazônia está muito próxima de um ponto de não retorno para sua sobrevivência, devido a uma combinação de fatores que incluem aquecimento global, desflorestamento e queimadas que minam seu sistema hidrogeológico. A advertência foi feita por Thomas Lovejoy, atualmente professor da George Mason University, no Estado de Virgínia, nos Estados Unidos, no primeiro dia do simpósio internacional Fapesp Week, em Washington, nos dias 24 e 25 de outubro de 2011.

O biólogo Lovejoy, um dos mais importantes especialistas em Amazônia do mundo, começou a trabalhar na floresta brasileira em 1965, "apenas três anos depois da fundação da Fapesp", lembrou.

Apesar de muita coisa positiva ter acontecido nestes 47 anos ("quando pisei pela primeira vez em Belém, só havia uma floresta nacional e uma área indígena demarcada e quase nenhum cientista brasileiro se interessava em estudar a Amazônia; hoje esse situação está totalmente invertida"), também apareceram no período diversos fatores de preocupação.

Lovejoy acredita que restam cinco anos para inverter as tendências em tempo de evitar problemas de maior gravidade. O aquecimento da temperatura média do planeta já está na casa de 0,8 grau centígrado. Ele acredita que o limite aceitável é de 2 graus centígrados e que ele pode ser alcançado até 2016 se nada for feito para efetivamente reduzi-lo.

O objetivo fixado nas mais recentes reuniões sobre o clima em Cancun e Copenhague de limitar o aumento médio da temperatura média global em 2 graus centígrados pode ser insuficiente, na opinião de Lovejoy, devido a essa conjugação de elementos.

De forma similar, Lovejoy crê que 20% de desflorestamento em relação ao tamanho original da Amazônia é o máximo que ela consegue suportar e o atual índice já é de 17% (em 1965, a taxa era de 3%).

A boa notícia, diz o biólogo, é que há bastante terra abandonada, sem nenhuma perspectiva de utilização econômica na Amazônia e que pode ser de alguma forma reflorestada, o que poderia proporcionar certa margem de segurança.

FONTE

Agência Fapesp

Videogame pode engordar, muito cuidado!

Videogame pode engordar, diz estudo

Por Paula Rothman, de INFO Online

• Quinta-feira, 27 de outubro de 2011 - 13h15
Reprodução
Estudo realizado por pesquisadores canadenses indica que jogar videogame pode engordar mais do que não praticar atividade alguma.
O professor Jean-Philippe Chaput, da Universidade de Ottawa, publicou há pouco um trabalho na American Journal of Clinical Nutrition no qual reuniu evidências de que jovens que jogam consomem mais calorias do que aqueles que praticam outras atividades sedentárias – como assistir TV – ou que não fazem nada. Durante várias sessões de estudo, ele e sua equipe reuniram 22 adolescentes e pediram que jogassem vídeo game por apenas uma hora. Depois, mediam sua ingestão calórica. Índices de glicose, gasto calórico, saciedade, pressão sanguínea, insulina e outros parâmetros também foram medidos. O resultado foi que os gamers consumiam, em média, 163 calorias a mais do que aqueles não envolvidos em games - e que o valor extra ingerido não compensava gastos a mais que os jogadores tiveram sobre o grupo que não fez nada.
Os pesquisadores alertam que os resultados obtidos são relativos a apenas uma hora de jogo, e que, na vida real, adolescentes podem passar muito mais tempo jogando – e, consequentemente, podem ingerir muito mais calorias.
Chaput atribui o aumento de ingestão ao estresse mental causado pelo jogo: quando o cérebro está neste estado, envia uma mensagem  exigindo mais comida para compensar. 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Falso Mito

O falso mito por Ipojuca Pontes em 16 de outubro de 2006
Resumo: O ex-operário relâmpago Lula da Silva abusa da paciência da nação. Sob o seu (des)governo, o crime virou acontecimento de rotina e os escândalos se sucedem em proporções nunca dantes imaginada.

© 2006 MidiaSemMascara.org

Lula da Silva, o ex-operário relâmpago que pôs a nação de joelhos, foi transformado em mito para parcela significativa do povo brasileiro. Não é difícil explicar a construção do mito: durante o período do governo militar de 1964, Lula surgia com a retórica primária e o biótipo talhado (barbudo, sem dedo, tenaz etc.) para levantar a bandeira das esquerdas sufocadas pelas manhas do General Golbery do Couto e Silva, a eminência parda do regime autoritário instalado em 1964. Em torno de Lula, para apoiá-lo e até mesmo santificá-lo, reuniram-se todas ou quase todas as facções esquerdistas da época, da luta armada ao esquerdismo gramsciano, tendo como principal suporte os intelectuais marxistas da USP – a bilionária Universidade de São Paulo –, todos estatizantes e coletivistas e, com mais empenho, a igreja apóstata da Teologia da Libertação, de natureza revolucionária e anticristã, integrada por gente fanática do tipo Leonardo Boff e Frei Betto.
De lá pra cá, escorado na proteção da mídia, o mito Lula cresceu em força e substância, movido pela “militância selvagem” chegando ao poder, afinal, em 2002. Para a formação do mito – sabe-se – prevalece muito mais o que se inventa e divulga em torno dos fatos e acontecimentos que o cercam, do que a própria realidade que ele representa, ou seja: a consolidação do mito se apóia mais na imaginação coletiva do que na realidade dos fatos, sobretudo quando ele, o mito, conduzido por um irracional processo de compensação, passa a ser, como no verso de Fernando Pessoa, “o nada que é tudo”.
A mitologia que envolve Lula tem fundamentação marxista, posto que esta enxerga na classe operária a redenção da humanidade, a única com capacidade para abrir as portas do paraíso terrestre. O próprio Marx, em dezenas de livros e encontros da Internacional (o Foro de São Paulo da época), tratou de dar forma e construir a fantasia, lógico, sem nenhuma correspondência com a realidade. Não que a figura do operário não mereça respeito e tenha méritos. Tem, sim. Mas, não para governar e conduzir o mundo acima dos interesses da própria classe. Ademais, como qualquer ser humano, o operário só pensa nas delícias do “conforto burguês” e nas comodidades da sociedade burguesa – o que é mais do que legítimo, mas nada revolucionário (os malandrinos messiânicos sabem disso, daí o mundo de promessas).
Assim considerado, e visto que há trinta anos não trabalha e vive (à bordalesa) como símbolo de uma mentira fortemente enraizada, pode-se afirmar, sem temor, que Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato-presidente, está hoje muito mais para o caudilho populista do que propriamente para o líder operário. Neste particular, Lula não deve ser comparado, por exemplo, ao operário alemão Weitling mas, sim, à figura de Juan Domingo Perón, o controverso ditador argentino de meados do século passado. De fato, os pontos de contato entre Lula e Perón, mito argentino, são incontáveis.
O primeiro deles: os dois mitos, no auge do processo de degradação política, moral e institucional dos seus respectivos governos, acusados de corrupção e incontáveis práticas criminosas, simplesmente sobreviveram à realidade das acusações e dos fatos negativos que os envolviam (e envolvem). Na Argentina, para se eternizar no poder, Perón partiu para programas de assistencialismo deslavado, com Evita Perón distribuindo dinheiro e “conselhos” a milhares de mulheres desamparadas que formavam longas filas nos corredores da Casa Rosada. Outra semelhança: amparado no forte sindicalismo da CGT, inteiramente contaminado, Perón articulou o plano diabólico (e corrupto) da “casa pré-fabricada” que remexeu com os anseios dos trabalhadores argentinos e possibilitou o rápido enriquecimento de Juan Duarte – irmão da esposa de Perón, Evita – e Domingo Mercante, asseclas ativos do “esquema”.
A coisa chegou a tal ponto, na consolidação de um quadro de completo apodrecimento do tecido ético da nação, que os militantes do peronismo proclamavam, insanos, nas ruas de Buenos Aires: “Ladrón o no ladrón, nosostros queremos Perón!”. No Brasil atual, o fenômeno se repete de igual modo e talvez por isso, em recente edição, a revista britânica “The Economist”tenha classificado Lula como uma “Evita de barbas”.
Com efeito, o ex-operário relâmpago Lula da Silva abusa da paciência da nação. Sob o seu (des)governo, o crime virou acontecimento de rotina e os escândalos se sucedem em proporções nunca dantes imaginada: de Waldomiro Diniz ao Mensalão, das estranhas dádivas de Paulo Okamotto aos sanguessugas, da ação nefasta de Palloci contra o caseiro Francenildo ao Land Rover do ex-Secretário-Geral do PT Silvinho Pereira, dos “vampiros” da saúde às pródigas doações a Lulinha, da ação lesiva do Banco Popular aos assassinatos dos prefeitos Celso Daniel e Toninho do PT, do indiciamento de José Dirceu ao recente dossiêgate, passando pelos milhões de dólares do falso padre Olivério Medina, integrante das FARC, e os milhões de dólares nas caixas de rum para as eleições presidenciais, enviados por Fidel Castro, para não falar nas dezenas de outros casos escabrosos já esquecidos pela má memória do povo – o País simplesmente se avacalhou.
De minha parte, acho que o mito Lula, que já está sendo revisto, não vai durar muito, pois trata-se de um falso mito. Um belo dia, sem dar respostas claras à população, a parcela do povo que o aceita cansará de sua cara barbuda e de sua retórica rasteira e o repudiará – em que pese o óbolo do Bolsa-Família, que o Estado arruinado simplesmente não terá condições de manter.

Líbano: empregadas domésticas à venda


11/10/2007
Líbano: empregadas domésticas à venda

Dominique Torrès*

"Bem-vindos ao aeroporto Rafic Hariri", sussurra uma voz feminina a cada quinze minutos. São 7h30 da manhã, o saguão está deserto. Apenas uma sala de espera está apinhada de gente. Ali, numa parede, um cartaz traz os seguintes dizeres: "Área de recepção para empregadas domésticas". Cristãos, muçulmanos, casais, famílias inteiras estão chegando. Dentre eles está o Dr. Hadj, um médico franco-libanês. Ele está com pressa, o trabalho no hospital o aguarda: "As agências se encarregam de tudo", explica, "mas é preciso comparecer pessoalmente para a entrega da empregada doméstica". 

"Em 2002, eu salvei literalmente da fome uma togolesa ao admiti-la para trabalhar na minha casa", conta uma senhora de jeans. "Primeiro, paguei para ela US$ 50 (cerca de R$ 90) por mês, mas, depois de seis meses, uma vez que ela estava trabalhando muito bem, eu lhe dei um aumento, passando para US$ 75 (cerca de R$ 136)". 

Há alguns anos, jovens mulheres oriundas de cerca de trinta países pobres afluem em busca de um emprego como empregadas domésticas no Líbano. Atualmente, elas são mais de 90.000 cingalesas, 30.000 etíopes, 40.000 filipinas, sem esquecer das outras nacionalidades, dentre as quais há muitas burundinesas e malgaxes. Uma pessoa em cada 16 que vivem no Líbano é uma doméstica estrangeira, segundo o diário de língua inglesa "Daily Star". As filipinas (as mais bem educadas) recebem US$ 200 por mês, US$ 150 para as etíopes, US$ 100 para as cingalesas - o que representa menos de 20 centavos de euro (R$ 0,51) por hora. A qualquer momento, o empregador pode "devolver" a empregada, que, por sua vez, não tem o direito de partir.

Nesta manhã, os futuros empregadores estão aguardando as passageiras do avião da Ethiopian Airlines que pousou às 2h da madrugada: são 200 jovens mulheres que por enquanto estão isoladas e amontoadas no setor da alfândega, agachadas uma contra as outras. Não há bebidas, não há alimentos, não há toaletes. Conforme exige o serviço de segurança nacional, o seu passaporte transitará diretamente das mãos do policial das fronteiras para aquelas do empregador.

A jovem etíope que pisa pela primeira vez o solo libanês ignora que o seu passaporte só lhe será devolvido no dia da sua partida. Ela não tem a menor idéia de que neste exato momento ela acaba de perder a sua liberdade. O doutor Hadj verifica rapidamente se o nome corresponde àquele que a agência lhe comunicou, e, com um gesto do braço, faz "yalah", sem uma palavra nem um sorriso. Carregando a sua magra bagagem, a jovem mulher tenta segui-lo, arriscando olhares aterrorizados por todos os lados. Eles devem se dirigir até a agência de empregos. Lá, ela irá provavelmente assinar um novo contrato, em árabe, o qual comporta condições que não terão mais nada a ver com os compromissos que haviam sido firmados no seu país. O seu salário corre risco de diminuir. 

Segundo a embaixada das Filipinas, algumas jovens mulheres trabalham de graça durante os três primeiros meses, vêem a duração da estadia obrigatória, passar de dois anos para três anos e são privadas de toda liberdade: elas ficam proibidas de saírem sozinhas da casa, de entrarem em contato com a família e de comunicarem com o exterior. Sem falar do quarto que lhes foi prometido, que tem grandes chances de ser uma varanda, e até mesmo a cozinha! Alguma delas se recusa a assinar? É tarde demais. Sem dinheiro, sem passaporte, elas vêem a armadilha fechar-se.

No dia da assinatura do contrato, a agência cobra à vista entre dez e quinze vezes o primeiro salário da doméstica. Uma jovem etíope acaba custando, no total, ao empregador, US$ 2.400 (R$ 4.344), o que inclui a passagem, o visto, o exame médico, o contrato com despesas de cartório, etc. Trata-se de uma quantia importante, da qual 60% são embolsados pela agência. Em Beirute, 380 agências oficiais de colocação de empregados domésticos invadem a paisagem publicitária, principalmente nos outdoors. Alguns anos atrás, uma delas havia anunciado até mesmo uma liquidação de cingalesas!

Em 21 de junho de 2007. Anlyn Sayson, uma linda filipina de 21 anos, chega ao Líbano. Em 29 de junho, ela morreu, jogando-se de uma varanda do quinto andar de um apartamento em Beirute. O que será que aconteceu de tão terrível durante aquela semana para motivar une jovem mulher sem história a suicidar-se? Segundo a polícia libanesa, a jovem doméstica teria tido uma crise nervosa na casa dos seus empregadores em Trípoli, no norte do país. Estes a teriam levado de volta imediatamente à agência de empregos NK Contrat, em Beirute. O patrão da agência, Negib Khazaal, conta que a jovem mulher estava muito excitada e que um dos seus funcionários lhe teria fornecido calmante antes de deixá-la sozinha no apartamento. Às 3h da manhã, os vizinhos ouviram gritos. Eles encontraram o corpo esmagado da jovem mulher estendido na calçada. Os resultados da autópsia apontaram que havia doses maciças de metanol, uma substância neurotóxica particularmente perigosa, no estômago de Anlyn Sayson.

Enquanto a sua morte foi objeto de algumas linhas na imprensa local, a maior parte desses suicídios ocorre em meio à indiferença total. Contudo, o número de suicídios de domésticas não pára de aumentar: 45 filipinas, 50 cingalesas e 105 etíopes se suicidaram ao longo dos últimos quatro anos. "Num grande número de casos", conta Sami Kawa, um médico legista, "as mortas são encontradas cobertas de equimoses, de mordidas ou de queimaduras".

É um sistema completo de exploração que está implantado, no qual cada um dos protagonistas, o Estado, as agências, os empregadores, desempenha o seu papel respectivo, contando geralmente com a cumplicidade dos países de origem. Desde 1973, o Líbano vem "importando" domésticas estrangeiras que não contam com a proteção de texto de lei algum: o código do trabalho não se aplica a elas. Além disso, segundo as associações caritativas, a sua situação não pára de piorar. "Já faz alguns anos, nós estamos registrando um aumento dos atos de violência e dos estupros", explicam integrantes da Caritas.

"Até onde eu fui informado, não houve no Líbano uma única condenação sequer, nem por crime, nem por estupro, em trinta anos; apenas algumas raras e reduzidas condenações na justiça penal por golpes e ferimentos", sublinha o advogado Roland Tawk, que defende as domésticas há mais de dez anos. Em sua maioria, os casos são solucionados à libanesa: uma vez que a maioria dos casos de maus tratos vem acompanhada pelo não-pagamento do salário, a vítima acaba desistindo da sua queixa por estupro contra o pagamento do seu salário, ou ainda, o salário é "esquecido" de uma vez por todas, mas ela recupera finalmente o seu passaporte. Mas a violência não é uma exclusividade dos empregadores. Aqui, é possível fazer administrar uma boa surra a uma empregada doméstica pela polícia ou, com maior freqüência, pelas agências de empregos.

O resultado de uma pesquisa que foi realizada pela associação Caritas em 2007 junto a 600 empregadores é edificante. Mais de 91% das pessoas interrogadas confiscam o passaporte da empregada, 71% não a deixam sair sozinha, mais de 31% reconhecem maltratá-la, 33% limitam as suas refeições, 73% vigiam os seus relacionamentos e 34% a punem como se ela fosse uma criança.

Existem quarenta dessas domésticas, escondidas no subsolo da embaixada das Filipinas. Trinta na embaixada do Sri Lanka. E o mesmo número dentro de um anexo da embaixada da Etiópia. Todas elas querem retornar ao seu país, mas elas não recebem o seu salário há meses e até mesmo anos. Os jornais publicam os nomes e geralmente as fotos daquelas que estão em fuga, e a polícia está encarregada de trazer de volta as recalcitrantes para o empregador, queiram elas ou não.

Na embaixada da Etiópia, Yeftusran, 22 anos, está prostrada numa cadeira desde o início da manhã. Ela tem um braço quebrado. A assistente social da embaixada, Lina, uma libanesa compassiva, tenta compreender a sua história, mas Yeftusran se mostra incapaz de articular pensamentos, exceto algumas palavras que ela repete de modo recorrente: "Eu quero retornar a Adis Abeba". Os seus olhos são vazios, a sua determinação é aterradora. Depois de várias horas, a jovem mulher acaba contando trechos da sua história. Há quatro anos, ela vive na casa de uma família de camponeses, no norte do país. O filho de 22 anos quebrou-lhe o braço porque ela não foi capaz - ou não conseguiu - levantar e carregar a avó deficiente física que jazia no chão. Yeftusran não quer nem ver um médico, nem contar mais do que isso. No dia seguinte, a embaixada mandará buscar os seus pertences para enviá-la em seguida para Adis Abeba. "Nós tivemos três suicídios só nesta semana, e eu estou com medo do que pode acontecer com esta aqui", murmura Lina. "Uma etíope que chegou há dois dias está no hospital. Ela teria caído de uma varanda", prossegue a assistente social, levantando os olhos para o céu.

"Cerca de 400 domésticas estão mofando na prisão por supostos furtos", afirma Roland Tawk. Tão logo uma empregada de casa resolve fugir, o empregador dá queixa por furto. Durante o verão de 2006, o ataque israelense contra o Líbano e o desespero dos libaneses que fugiram das bombas foram amplamente repercutidos pela mídia. Os veículos de comunicação chegaram a mencionar, sem nunca se deter nesta questão, o número de 30.000 domésticas abandonadas dentro de apartamentos trancados com chave, não raro junto com o cachorro. Ao retornarem, os empregadores ficavam furiosos. A doméstica havia se mandado! "Nós tivemos muitas dificuldades para recuperar os seus passaportes, uma vez que certos empregadores ameaçavam entrar com processo na justiça por abandono de posto", conta Annie Israel, uma assistente social na embaixada das Filipinas.

Aos domingos, os serviços religiosos estão lotados em Beirute. É quando as domésticas que têm direito à folga semanal e aquelas que estão em fuga podem se encontrar. Na igreja São José, o Padre MacDermott, um americano de 75 anos que está instalado no Líbano há trinta anos, denuncia todo domingo o calvário das domésticas e diz que gostaria de ver a hierarquia cristã enfrentar este problema. Em 2001, os bispos do Oriente Médio publicaram um relatório sobre o calvário das domésticas, mas ele permaneceu confidencial.

Em 1948, o Líbano assinou um tratado contra o confisco dos documentos de identidade. Em 1991, a Convenção dos direitos humanos tornou-se parte integrante da Constituição libanesa. 

Líbano: empregadas domésticas à venda


11/10/2007
Líbano: empregadas domésticas à venda

Dominique Torrès*

"Bem-vindos ao aeroporto Rafic Hariri", sussurra uma voz feminina a cada quinze minutos. São 7h30 da manhã, o saguão está deserto. Apenas uma sala de espera está apinhada de gente. Ali, numa parede, um cartaz traz os seguintes dizeres: "Área de recepção para empregadas domésticas". Cristãos, muçulmanos, casais, famílias inteiras estão chegando. Dentre eles está o Dr. Hadj, um médico franco-libanês. Ele está com pressa, o trabalho no hospital o aguarda: "As agências se encarregam de tudo", explica, "mas é preciso comparecer pessoalmente para a entrega da empregada doméstica". 

"Em 2002, eu salvei literalmente da fome uma togolesa ao admiti-la para trabalhar na minha casa", conta uma senhora de jeans. "Primeiro, paguei para ela US$ 50 (cerca de R$ 90) por mês, mas, depois de seis meses, uma vez que ela estava trabalhando muito bem, eu lhe dei um aumento, passando para US$ 75 (cerca de R$ 136)". 

Há alguns anos, jovens mulheres oriundas de cerca de trinta países pobres afluem em busca de um emprego como empregadas domésticas no Líbano. Atualmente, elas são mais de 90.000 cingalesas, 30.000 etíopes, 40.000 filipinas, sem esquecer das outras nacionalidades, dentre as quais há muitas burundinesas e malgaxes. Uma pessoa em cada 16 que vivem no Líbano é uma doméstica estrangeira, segundo o diário de língua inglesa "Daily Star". As filipinas (as mais bem educadas) recebem US$ 200 por mês, US$ 150 para as etíopes, US$ 100 para as cingalesas - o que representa menos de 20 centavos de euro (R$ 0,51) por hora. A qualquer momento, o empregador pode "devolver" a empregada, que, por sua vez, não tem o direito de partir.

Nesta manhã, os futuros empregadores estão aguardando as passageiras do avião da Ethiopian Airlines que pousou às 2h da madrugada: são 200 jovens mulheres que por enquanto estão isoladas e amontoadas no setor da alfândega, agachadas uma contra as outras. Não há bebidas, não há alimentos, não há toaletes. Conforme exige o serviço de segurança nacional, o seu passaporte transitará diretamente das mãos do policial das fronteiras para aquelas do empregador.

A jovem etíope que pisa pela primeira vez o solo libanês ignora que o seu passaporte só lhe será devolvido no dia da sua partida. Ela não tem a menor idéia de que neste exato momento ela acaba de perder a sua liberdade. O doutor Hadj verifica rapidamente se o nome corresponde àquele que a agência lhe comunicou, e, com um gesto do braço, faz "yalah", sem uma palavra nem um sorriso. Carregando a sua magra bagagem, a jovem mulher tenta segui-lo, arriscando olhares aterrorizados por todos os lados. Eles devem se dirigir até a agência de empregos. Lá, ela irá provavelmente assinar um novo contrato, em árabe, o qual comporta condições que não terão mais nada a ver com os compromissos que haviam sido firmados no seu país. O seu salário corre risco de diminuir. 

Segundo a embaixada das Filipinas, algumas jovens mulheres trabalham de graça durante os três primeiros meses, vêem a duração da estadia obrigatória, passar de dois anos para três anos e são privadas de toda liberdade: elas ficam proibidas de saírem sozinhas da casa, de entrarem em contato com a família e de comunicarem com o exterior. Sem falar do quarto que lhes foi prometido, que tem grandes chances de ser uma varanda, e até mesmo a cozinha! Alguma delas se recusa a assinar? É tarde demais. Sem dinheiro, sem passaporte, elas vêem a armadilha fechar-se.

No dia da assinatura do contrato, a agência cobra à vista entre dez e quinze vezes o primeiro salário da doméstica. Uma jovem etíope acaba custando, no total, ao empregador, US$ 2.400 (R$ 4.344), o que inclui a passagem, o visto, o exame médico, o contrato com despesas de cartório, etc. Trata-se de uma quantia importante, da qual 60% são embolsados pela agência. Em Beirute, 380 agências oficiais de colocação de empregados domésticos invadem a paisagem publicitária, principalmente nos outdoors. Alguns anos atrás, uma delas havia anunciado até mesmo uma liquidação de cingalesas!

Em 21 de junho de 2007. Anlyn Sayson, uma linda filipina de 21 anos, chega ao Líbano. Em 29 de junho, ela morreu, jogando-se de uma varanda do quinto andar de um apartamento em Beirute. O que será que aconteceu de tão terrível durante aquela semana para motivar une jovem mulher sem história a suicidar-se? Segundo a polícia libanesa, a jovem doméstica teria tido uma crise nervosa na casa dos seus empregadores em Trípoli, no norte do país. Estes a teriam levado de volta imediatamente à agência de empregos NK Contrat, em Beirute. O patrão da agência, Negib Khazaal, conta que a jovem mulher estava muito excitada e que um dos seus funcionários lhe teria fornecido calmante antes de deixá-la sozinha no apartamento. Às 3h da manhã, os vizinhos ouviram gritos. Eles encontraram o corpo esmagado da jovem mulher estendido na calçada. Os resultados da autópsia apontaram que havia doses maciças de metanol, uma substância neurotóxica particularmente perigosa, no estômago de Anlyn Sayson.

Enquanto a sua morte foi objeto de algumas linhas na imprensa local, a maior parte desses suicídios ocorre em meio à indiferença total. Contudo, o número de suicídios de domésticas não pára de aumentar: 45 filipinas, 50 cingalesas e 105 etíopes se suicidaram ao longo dos últimos quatro anos. "Num grande número de casos", conta Sami Kawa, um médico legista, "as mortas são encontradas cobertas de equimoses, de mordidas ou de queimaduras".

É um sistema completo de exploração que está implantado, no qual cada um dos protagonistas, o Estado, as agências, os empregadores, desempenha o seu papel respectivo, contando geralmente com a cumplicidade dos países de origem. Desde 1973, o Líbano vem "importando" domésticas estrangeiras que não contam com a proteção de texto de lei algum: o código do trabalho não se aplica a elas. Além disso, segundo as associações caritativas, a sua situação não pára de piorar. "Já faz alguns anos, nós estamos registrando um aumento dos atos de violência e dos estupros", explicam integrantes da Caritas.

"Até onde eu fui informado, não houve no Líbano uma única condenação sequer, nem por crime, nem por estupro, em trinta anos; apenas algumas raras e reduzidas condenações na justiça penal por golpes e ferimentos", sublinha o advogado Roland Tawk, que defende as domésticas há mais de dez anos. Em sua maioria, os casos são solucionados à libanesa: uma vez que a maioria dos casos de maus tratos vem acompanhada pelo não-pagamento do salário, a vítima acaba desistindo da sua queixa por estupro contra o pagamento do seu salário, ou ainda, o salário é "esquecido" de uma vez por todas, mas ela recupera finalmente o seu passaporte. Mas a violência não é uma exclusividade dos empregadores. Aqui, é possível fazer administrar uma boa surra a uma empregada doméstica pela polícia ou, com maior freqüência, pelas agências de empregos.

O resultado de uma pesquisa que foi realizada pela associação Caritas em 2007 junto a 600 empregadores é edificante. Mais de 91% das pessoas interrogadas confiscam o passaporte da empregada, 71% não a deixam sair sozinha, mais de 31% reconhecem maltratá-la, 33% limitam as suas refeições, 73% vigiam os seus relacionamentos e 34% a punem como se ela fosse uma criança.

Existem quarenta dessas domésticas, escondidas no subsolo da embaixada das Filipinas. Trinta na embaixada do Sri Lanka. E o mesmo número dentro de um anexo da embaixada da Etiópia. Todas elas querem retornar ao seu país, mas elas não recebem o seu salário há meses e até mesmo anos. Os jornais publicam os nomes e geralmente as fotos daquelas que estão em fuga, e a polícia está encarregada de trazer de volta as recalcitrantes para o empregador, queiram elas ou não.

Na embaixada da Etiópia, Yeftusran, 22 anos, está prostrada numa cadeira desde o início da manhã. Ela tem um braço quebrado. A assistente social da embaixada, Lina, uma libanesa compassiva, tenta compreender a sua história, mas Yeftusran se mostra incapaz de articular pensamentos, exceto algumas palavras que ela repete de modo recorrente: "Eu quero retornar a Adis Abeba". Os seus olhos são vazios, a sua determinação é aterradora. Depois de várias horas, a jovem mulher acaba contando trechos da sua história. Há quatro anos, ela vive na casa de uma família de camponeses, no norte do país. O filho de 22 anos quebrou-lhe o braço porque ela não foi capaz - ou não conseguiu - levantar e carregar a avó deficiente física que jazia no chão. Yeftusran não quer nem ver um médico, nem contar mais do que isso. No dia seguinte, a embaixada mandará buscar os seus pertences para enviá-la em seguida para Adis Abeba. "Nós tivemos três suicídios só nesta semana, e eu estou com medo do que pode acontecer com esta aqui", murmura Lina. "Uma etíope que chegou há dois dias está no hospital. Ela teria caído de uma varanda", prossegue a assistente social, levantando os olhos para o céu.

"Cerca de 400 domésticas estão mofando na prisão por supostos furtos", afirma Roland Tawk. Tão logo uma empregada de casa resolve fugir, o empregador dá queixa por furto. Durante o verão de 2006, o ataque israelense contra o Líbano e o desespero dos libaneses que fugiram das bombas foram amplamente repercutidos pela mídia. Os veículos de comunicação chegaram a mencionar, sem nunca se deter nesta questão, o número de 30.000 domésticas abandonadas dentro de apartamentos trancados com chave, não raro junto com o cachorro. Ao retornarem, os empregadores ficavam furiosos. A doméstica havia se mandado! "Nós tivemos muitas dificuldades para recuperar os seus passaportes, uma vez que certos empregadores ameaçavam entrar com processo na justiça por abandono de posto", conta Annie Israel, uma assistente social na embaixada das Filipinas.

Aos domingos, os serviços religiosos estão lotados em Beirute. É quando as domésticas que têm direito à folga semanal e aquelas que estão em fuga podem se encontrar. Na igreja São José, o Padre MacDermott, um americano de 75 anos que está instalado no Líbano há trinta anos, denuncia todo domingo o calvário das domésticas e diz que gostaria de ver a hierarquia cristã enfrentar este problema. Em 2001, os bispos do Oriente Médio publicaram um relatório sobre o calvário das domésticas, mas ele permaneceu confidencial.

Em 1948, o Líbano assinou um tratado contra o confisco dos documentos de identidade. Em 1991, a Convenção dos direitos humanos tornou-se parte integrante da Constituição libanesa. 

O nosso amendoim está a salvo...!


Amendoim: início do plantio da safra 2012 já acontece no Brasil e área deve aumentar até 15%. A produtividade também deve ter melhores números e os preços pagos ao produtor são remuneradores. Maior oferta não deve baixar preços, pois estoques de passagem estão apertados.

Início de plantio de amendoim no Brasil segue a todo vapor e para a safra 2012 deve haver um acréscimo de até 15% na área plantada com o grão. Produtor tem um bom momento e preços devem seguir firmes.

A produtividade deve aumentar, chegando aos 115 mil hectares. No entanto, êxito no cultivo depende também da colaboração do clima e do investimento do produtor em tecnologias.

Apesar da expectativa de aumento na área e na produtividade, os preços devem seguir firmes, pois os estoques de passagem encontram-se em patamares quase nulos devido aos problemas climáticos enfrentados no decorrer de 2011, que resultaram na quebra de 20% do amendoim brasileiro.

De acordo com o Gerente da Divisão de Grãos da Coplana, Dejair Minotti, os preços do amendoim podem apresentar mudanças em maio, quando termina a colheita e o mercado pode observar o volume disponível do grão. As exportações também podem influenciar os preços no decorrer de 2012. “Os embarques de amendoim hoje estão presos à política cambial. Se o dólar estiver realmente ajustado, isso terá como consequência uma melhor remuneração para o produtor”, afirma. 

Fonte: Notícias Agrícolas // Ana Paula Pereira

O fim desses convênios, tomara tomara..!

Novo ministro do Esporte defende fim dos convênios e diz que é a favor da meia-entrada

Camila Campanerut
Do UOL Notícias
Em Brasília

Novo ministro diz como deverá ser a relação entre governo, CBF e Fifa

Após ser anunciado como o novo ministro do Esporte, o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) afirmou na tarde desta quinta-feira (27) na Câmara dos Deputados que irá defender maior rigor nas parcerias com ONGs e que, se depender dele, não haverá novos convênios. "O ministro e o ministério não pretendem fazer mais convênios com ONGs", afirmou. A intenção seria firmar parcerias apenas com órgãos públicos, como prefeituras.
Rebelo foi indicado pelo partido para ocupar a vaga de Orlando Silva, que deixou o cargo na quarta-feira (26) após acusações de desvio de dinheiro público justamente na parceria com ONGs. Com a escolha, a pasta continua sob domínio da legenda, que comanda o ministério desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Sobre a Copa do Mundo de 2014, Rebelo disse que historicamente é a favor da meia-entrada para estudantes, mas que, como ministro, irá acatar aquilo que o governo defender. Seguindo o texto da Lei Geral da Copa, que tramita no Congresso Nacional, a meia-entrada valeria apenas para idosos. O tema é polêmico e a Fifa já se manifestou contrariamente ao assunto, o que geraria o conflito entre os interesses nacionais e os acordos selados com a organizadora do evento esportivo.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O Príncipe de Taubaté

  • Vereador Rodson Lima (PP), de Taubaté (SP), disse <br>que o povo dá a ele uma vida de príncipe
    Vereador Rodson Lima (PP), de Taubaté (SP), disse 
    que o povo dá a ele uma "vida de príncipe"
Graças à comparação de que o luxo bancado pelo dinheiro público proporcionaria a ele uma vida “de príncipe”, o vereador Rodson Lima (PP), de Taubaté (130 km de São Paulo), terá que dar explicações na comissão de ética da Câmara Municipal nos próximos dias.
A analogia foi feita em um grupo de discussão no Facebook cujo tema são as eleições municipais de 2012. Na postagem, datada da última quarta-feira (19), o parlamentar se mostra maravilhado ante as condições de um hotel em que ele, outros dois vereadores e quatro servidores da Câmara estão hospedados.
O hotel fica na orla de Aracaju (SE), onde o grupo participa do 18º Encontro da Abel (Associação das Escolas do Legislativo e Escolas dos Tribunais de Contas). Entre diárias e passagens áreas, por exemplo, a viagem teve um custo de R$ 18 mil ao contribuinte segundo a Câmara. O encontro acontece desde quarta e termina amanhã (22).
“Hotel 5 estrelas, com uma big de uma piscina e de frente para o mar. Tudo pago com o dinheiro público! Daí me pergunto? Devo ou não continuar atendendo TODOS os dias no gabinete da CMT [Câmara Municipal de Taubaté], em meu escritório no 3 Marias?”, indaga o parlamentar. Na sequência, ele responde com um “lógico que sim” e agradece a “vida de príncipe” proporcionada pelo “povo”.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/10/21/vereador-tera-que-dar-explicacoes-na-camara-de-taubate-por-se-comparar-a-um-principe-bancado-com-dinheiro-publico.jhtm

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Embrapa, aqui vale a pena investir


Pesquisador da Embrapa é o único brasileiro no Conselho Editorial de nova revista científica internacional






O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e BiotecnologiaElíbio Rech, é o único brasileiro escolhido para compor o Conselho Editorial da nova revista científicaAgriculture & Food Security, que começa a circular eletronicamente em 2012. A publicação faz parte da editora do Reino Unido, BioMed Central, pioneira no modelo de publicação de acesso aberto (disponibiliza o artigo logo após a publicação), que reúne mais de 200 publicações das áreas de Ciência, Tecnologia e Medicina. 

O Conselho Editorial da nova revista reúne cientistas de 15 países além do Brasil: Reino Unido, Israel, Cuba, Estados Unidos, Egito, Canadá, Índia, Arábia Saudita, México, Quênia, Venezuela, França, Marrocos, África do Sul e China.

Agriculture & Food Security é uma revista de acesso aberto, cujo foco é o desafio da segurança alimentar global. Por isso, os artigos devem abordar pesquisas relacionadas à segurança alimentar voltadas, principalmente, à agricultura sustentável e iniciativas locais, regionais, nacionais e mundiais em prol de sistemas inovadores para produção de alimentos.

O escopo da revista prioriza os seguintes tópicos: ciências agrícolas e ambientais, incluindo genética e ecologia de sistemas; criação de animais, pesca e ciência das plantas; alterações globais, biodiversidade, climatologia e estresses abióticos; tecnologia de alimentos e balanceamento de produtos agrícolas em alimentos, rações, fibras e combustível; economia; ciências da informação; estratégias para a implementação de novas políticas e práticas de saúde pública relacionadas à segurança alimentar e nutricional.

A novidade é que, apesar de ser composta de artigos científicos, aAgriculture & Food Security não tem como público-alvo principal os pesquisadores, mas sim os agricultores, profissionais de saúde pública e políticos responsáveis pela tomada de decisões, além do público em geral.

Segundo Rech, é um privilégio compor o Conselho Editorial da nova publicação que vai reunir pesquisas de ponta numa área de vital importância como a segurança alimentar. "Publicações online de acesso aberto significam disponibilizar pesquisa de alta qualidade nas áreas de agricultura e segurança alimentar para o mundo todo, sem ônus. É, sem dúvida, mais um passo determinante para a popularização global da ciência e da tecnologia", afirma o pesquisador.

A revista Agriculture & Food Security já está aceitando a submissão de artigos. Mais informações pelo endereço:www.agricultureandfoodsecurity.com.

FONTE

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Fernanda Diniz - Jornalista

Feijão a R$ 80,00 a saca, é isso ai, vai faltar mesmo!

 Os produtores de feijão do Brasil irão reduzir mais de 20% as suas áreas de plantio na safra de 2011/2012, que teve início em agosto. A principal razão é o preço obtido com a venda do grão este ano. Tanto no Estado do Paraná quanto em Minas Gerais, alguns agricultores já falam em plantar 50% a menos, substituindo a cultura por milho e soja.

Na Fazenda Agropecuária Michels, na cidade  de Romaria (MG), o produtor Matias já reduziu o plantio da primeira safra de feijão, e já faz planos para a diminuição da segunda etapa de plantio. "Com esse preço de R$ 80 a saca de 60 quilos não compensa plantar feijão, porque o custo é mais alto", disse Matias. "Vou trocar o feijão pelo milho nessa primeira safra, e na segunda trocarei pela soja", garantiu o produtor mineiro, que não descartou a possibilidade de deixar completamente a cultura se a incidência da praga mosca-branca não for controlada na propriedade.

CDI

Soja chinesa virou brasileira e Cerrado se tornou celeiro do País

Epopeia científica dos pesquisadores da Embrapa permitiu a introdução da planta, originária da China, no biomaHerton Escobar, enviado especial
Plantio experimental da Embrapa para a soja resistente a altas temperaturas. Foto: Celso Junior/AE
As árvores de casca grossa, caules retorcidos, e o chão de terra poeirenta não deixam dúvidas: o cerrado não é lugar para qualquer plantinha. Durante seis meses do ano, entre maio e setembro, não cai uma gota de chuva nesse interiorzão brasileiro. E mesmo quando chove, o solo nativo é imprestável para a agricultura: ácido, cheio de alumínio tóxico e pobre em quase todos os nutrientes essenciais.
Só mesmo um louco - ou um bando de cientistas destemidos - para achar que esse ambiente de biodiversidade riquíssima, porém aparentemente inóspito e improdutivo, poderia se tornar um dos canteiros mais férteis da agricultura mundial. Mas aconteceu. Foi obra da Embrapa. Trinta anos atrás, a recém-criada Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária lançou sua maior "insanidade" científica: pegou uma planta de origem chinesa, típica de climas temperados, e fez dela a rainha da agricultura tropical.
A soja, que até os anos 70 só podia ser plantada do Paraná para baixo, onde o clima era mais parecido com o da China, virou-se para o norte e tomou conta do cerrado. Invadiu Mato Grosso do Sul, avançou pelas bordas do Sudeste, conquistou Goiás, criou raízes em Mato Grosso, subiu pelo Tocantins, embrenhou-se no Maranhão e foi bater na porta da Amazônia. "Hoje temos tecnologia para cultivar soja em qualquer lugar do País, em qualquer época do ano", diz o pesquisador Plínio Souza, da Embrapa Cerrados, um dos principais responsáveis pela invenção da soja tropical. "É uma tecnologia 100% brasileira."
Em pouco mais de três décadas, turbinada pela nova genética verde-e-amarela, a oleaginosa chinesa transformou-se no maior produto do agronegócio brasileiro. Em 2007, a indústria da soja movimentou R$ 41,3 bilhões em grãos, máquinas, sementes, fertilizantes, pesticidas, logistica, mão-de-obra, refino de óleo, produção de ração animal e outros componentes da cadeia produtiva. Isso equivale a 6,4% do PIB agrícola e 1,6% do PIB total do País. Os cálculos foram feitos pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a pedido do Estado. Só as exportações do complexo soja (grão, farelo e óleo) renderam R$ 26,2 bilhões no ano passado, e a expectativa é que passem dos R$ 32 bilhões em 2008.
Apesar não ser vista tradicionalmente como um "alimento" - a exemplo do arroz, do feijão e do milho, que são consumidos diretamente no prato -, a soja está embutida, direta ou indiretamente, em boa parte da dieta brasileira. É ingrediente básico de muitos alimentos industrializados no supermercado, na forma de lecitina ou óleo, e principal fonte de proteína na ração de suínos e aves, na forma de farelo. Só fica fora do menu do boi, que come principalmente pastagem. "Quando você come frango e porco, está comendo proteína de soja", diz o secretário-geral da Abiove, Fabio Trigueirinho. Segundo ele, seria impossível o Brasil abrir mão dessa cultura. "Se deixássemos de produzir soja, teríamos de importar."
No rastro da soja no cerrado vieram o milho, o feijão, o arroz, as máquinas, os fertilizantes, as estradas, a construção civil e os vilarejos transformados em metrópoles da noite para o dia com a riqueza do agronegócio. "Falar de soja é falar de muita coisa. Os benefícios sociais e econômicos, diretos e indiretos, são enormes", diz o ex-presidente da Embrapa, Silvio Crestana.
De mera periferia agrícola, o cerrado virou o celeiro de quase metade dos alimentos brasileiros. Hoje, 40% dos 200 milhões de hectares do bioma estão ocupados com 61 milhões de hectares de pastagens e 17,5 milhões de hectares de plantações. Segundo cálculos da Embrapa e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é desse território que saem 47% dos grãos (soja, milho, arroz, feijão, sorgo e algodão caroço), 40% da carne bovina e 36% do leite produzidos no País. "A incorporação do cerrado à agricultura foi a maior conquista do Brasil", afirma José Garcia Gasques, coordenador-geral de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
No caso da soja, a contribuição do cerrado cresceu dez vezes entre as décadas de 70 e 80, passando de 2% para 20% da produção nacional do grão. No ano passado, chegou a 68,5%. De fato, a soja foi tão bem adaptada ao cerrado que hoje ela é muito mais produtiva no Centro-Oeste do que no Sul, onde foi originalmente introduzida. Em Mato Grosso, os melhores produtores chegam a ensacar 4,6 toneladas de soja por hectare (a maior produtividade do mundo), enquanto no Rio Grande do Sul a produtividade média é de 2 toneladas por hectare (a menor do Brasil).

UMA QUESTÃO DE LUZ

A soja que brota hoje no cerrado é muito diferente da que foi levada da China para os Estados Unidos, 200 anos atrás, e de lá trazida para o Brasil, no fim do século 19 - sempre restrita a regiões de clima temperado, próximo ou acima dos 30 graus de latitude. O pacote completo de conversão tecnológica inclui sementes, solo, microrganismos fixadores de nitrogênio e práticas adequadas de manejo - todos fatores essenciais para a produtividade da lavoura. Mas a diferença crucial está mesmo no DNA da planta, que os cientistas brasileiros retemperaram para adaptá-la ao cardápio climático tropical.
Curiosamente, a principal adaptação que os pesquisadores tiveram de fazer não foi para altas temperaturas nem para escassez de água (que é abundante nos meses de primavera e verão), mas para o chamado fotoperíodo - o tempo de luz ao qual a planta precisa ficar exposta para se desenvolver.
A soja é uma leguminosa que gosta de dias longos, com mais de 12 horas de radiação solar. Nas regiões temperadas de alta latitude, onde ela se originou, isso é fácil: no verão, por causa da inclinação da Terra, os dias passam facilmente das14 horas de luz. Já nas regiões tropicais, próximas ao Equador, como é o caso do cerrado, os dias e as noites são menores e mais constantes. Na altura do paralelo 16, onde fica Brasília, o fotoperíodo máximo no verão é de 13 horas e meia. E para uma planta, meia hora a mais ou a menos de luz por dia faz muita diferença.
Em condições de menor período de luz, a soja floresce precocemente e pára de crescer. Sem o melhoramento genético feito pela Embrapa, a soja plantada no cerrado floresceria mais cedo e não cresceria mais do que 30 centímetros, o que seria impraticável do ponto de vista econômico. A pesquisa permitiu retardar o florescimento e, com isso, aumentar a chamada fase vegetativa (ou pré-reprodutiva) da planta de 30 dias para 45 dias, anulando o efeito do fotoperíodo sobre o florescimento. "É como se a gente retardasse o início da puberdade na espécie humana para termos indivíduos maiores", compara Souza.
Hoje, a altura média da soja no cerrado é de 80 cm e os produtores podem optar por variedades de ciclo reprodutivo curto, médio ou longo, dependendo das condições de cada região.

SELEÇÃO ARTIFICIAL

O melhoramento genético na agricultura obedece aos mesmos princípios da evolução por seleção natural, segundo os quais os indivíduos mais adaptados ao ambiente são naturalmente selecionados para sobreviver e passar seus genes para as próximas gerações. A diferença é que a seleção nesse caso não é feita pelo homem, em vez da natureza.
Assim como cada pessoa é um pouco diferente da outra, cada pé de soja é um pouco diferente do outro. Uns crescem mais rápido, outros produzem mais grãos, outros resistem melhor a uma determinada doença ou precisam de menos água para sobreviver. O que os cientistas "melhoristas" fazem é selecionar anualmente as melhores plantas de cada lavoura de pesquisa, que são então usadas como matrizes para a produção de novas variedades.
É um processo lento, trabalhoso, que tipicamente passa por milhares de cruzamentos. A cada safra, pesquisadores da Embrapa selecionam 50 mil linhagens de soja e estabelecem 300 experimentos de campo, com 30 linhagens cada um. Cada nova variedade leva de oito a dez anos de pesquisa para ficar pronta.
Plinio Souza leva a reportagem do Estado até um galpão da Embrapa Cerrados onde estão armazenados milhares de saquinhos com amostras de soja selecionadas de várias regiões. Do lado de fora, técnicos debruçados sobre uma mesa passam as mãos por uma pilha de grãos, catando e eliminado aqueles que têm algum defeito, da mesma forma como uma dona de casa "cata feijão" antes do jantar. Só os melhores grãos permanecem no páreo para virar uma nova variedade. "É daqui que vai sair a soja que estará no campo em dez anos", profetiza o pesquisador.
Souza sabe do que está falando. Foi ele quem selecionou, no início da década de 80, a primeira variedade lucrativa de soja para o cerrado, chamada Doko. Extremamente rústica e ao mesmo tempo produtiva, ela podia ser plantada em áreas recém-abertas (desmatadas), com bons retornos logo na primeira safra. Outras variedades precisavam de pelos menos três anos de cultivo de alguma outra cultura para dar o mesmo resultado, o que tornava o investimento inicial de abertura e correção do solo muito arriscado. "A Doko abriu de vez o cerrado para a soja", afirma Souza. O resto da agricultura veio no embalo.
Enquanto Souza selecionava as linhagens mais promissoras no campo, os cruzamentos genéticos eram feitos nos laboratório da Embrapa Soja, em Londrina, pelo melhorista Romeu Kiihl. A Doko, segundo ele, nasceu de uma mistura de variedades americanas e indonésias. "Pegamos o que tinha de bom em cada uma delas e juntamos", conta. Ele calcula que 50% dos ganho de produtividade da soja nas últimas três décadas deve-se ao melhoramento genético. A média nacional, que era de 1.700 kg/hectare na década de 80 saltou para 2.800 kg/hec, em 2006.

SOLOS E NITROGÊNIO

Juntos, Souza e Kiihl plantaram as sementes tecnológicas de boa parte do PIB agrícola brasileiro. Nem mesmo a melhor soja, com a melhor das genéticas, porém, teria tido qualquer chance de sucesso no cerrado se não fosse por duas outras frentes de pesquisa: o melhoramento de solos e a fixação biológica de nitrogênio.
O solo nativo do cerrado é extremamente ácido (pH 4) e carente de nutrientes básicos, como cálcio, fósforo e potássio. "Não dá para produzir nada", resume o agrônomo José Roberto Peres, hoje chefe de gabinete da presidência da Embrapa. Foram necessários muitos anos de pesquisa para chegar a uma receita eficiente de corretivos minerais e fertilizantes capazes de compensar essa deficiência. Especialistas calculam que, sem essa "correção", a produtividade da soja no solo nativo do bioma não passaria de 0,3 tonelada/hectare. Ou seja: seria impraticável.
O ingrediente mais importante dessa receita, porém, não é um fertilizante químico, mas uma bactéria. Seu nome é Bradirhizobium japonicum, ou simplesmente rizóbio. Ela vive uma relação de simbiose com a soja, retirando nitrogênio do ar e transferindo-o para a planta em troca de carboidratos metabólicos. Sem essa parceria, os produtores teriam de adicionar 360 quilos de adubo nitrogenado (uréia) por hectare de solo para que a soja rendesse alguma coisa no cerrado. "Seria economicamente impossível", afirma Peres. "Em vez disso, a bactéria tira todo o nitrogênio do ar. Não precisamos adicionar nada."
Toda a soja cultivada no Brasil utiliza o nitrogênio do rizóbio inoculado na semente. A medida que a planta se desenvolve, a bactéria se multiplica e forma nódulos nas raízes, que funcionam como usinas biológicas de nitrogênio. A tecnologia foi desenvolvida pela lendária bióloga Johanna Döbereiner, da Embrapa, morta em 2000. Peres foi um de seus alunos.

FERRUGEM

O melhoramento genético não termina nunca, pois sempre há novas dificuldades a serem superadas. A principal ameaça à produção de soja no País hoje é a ferrugem, uma doença também de origem asiática que chegou ao Brasil em 2001. O fungo entrou pelo Paraná e rapidamente se espalhou por todo o País, causando prejuízos de US$ 125 milhões logo no primeiro ano e de US$ 2,4 bilhões, na safra 2007/08, segundo cálculos do Consórcio Antiferrugem, criado em 2004 para combater a epidemia.
Há várias fungicidas disponíveis no mercado, mas o controle é difícil. E caro: cada aplicação custa o equivalente a três sacas de soja por hectare. Desde 2007, o Ministério da Agricultura estabeleceu um regime nacional de "vazio sanitário", um período de 90 dias na entressafra durante o qual é proibido ter soja verde no campo, como forma de cortar a propagação do fungo.
Empresas do setor público e privado prometem plantas resistentes para o mercado em 2009. "Não vamos eliminar a necessidade de fungicidas, mas acho que vai ajudar bastante", avalia Romeu Kiihl, que há cinco anos trocou a Embrapa (onde estava há 25) pelo setor privado. Hoje é diretor científico da TMG Tropical Melhoramento e Genética, uma empresa nos arredores de Londrina que também desenvolve variedades de soja resistentes à ferrugem.
Tanto a Embrapa Cerrados quanto a TMG lançaram suas primeiras variedades resistente à ferrugem em maio deste ano, no Congresso Brasileiro de Soja.